Quem somos

A Pipa musical nasceu em 2007 pela cabeça de Rodolpho Bertolini Junior – o XTO, e Rogério Krepski. Na época desempregados mas com alguma esperança de melhoras para o futuro, gravavam arquivos de músicas e conversavam sobre suas mazelas enquanto bebiam a cerveja mais barata que encontravam no mercado – e falavam sobre elas. Também fazíamos (notou a inversão de pessoa no texto?) propagandas sobre produtos improváveis disponíveis nos mercados e tocávamos músicas de várias épocas que não eram muito divulgadas nos rádios. Enfim, havia uma intenção de dar voz aos que não eram ouvidos, de fazer aparecer os invisíveis. A partir desta intenção foi um caminho natural apresentar entrevistas na Pipa.

Chamávamos pessoas envolvidas com a cultura local. Artistas plásticos, DJs, diretores, gente do teatro, do cinema, da música ou simplesmente artistas interessantes. Tivemos em nosso estúdio a jornalista Claudia Assef, a DJ Lika Marques, a promoter e artista plástica Ida Feldman, a pintora Thais Ueda, entre muitos outros talentosos artistas.

Com todas estes talentos em outras mídias, acontecia uma mistura muito forte de rádio com outras artes. No programa com a cantora Lulina, por exemplo, acabamos tendo uma interessante aventura em que ela se perde na nossa geladeira. Muitas vezes colocávamos para tocar algumas músicas em discos de vinil que tinham como critério de escolha a capa e o baixo preço de venda – o estúdio de gravação da Pipa Musical fica no centro de São Paulo e é cercado por muitos sebos com grande disponibilidade de discos baratos. Então não sabíamos que tipo de música surgiria. A partir da música, criávamos histórias que acompanhavam o clima instaurado.

Em 2012 tivemos uma etapa muito importante na Pipa: houve uma representação de rádio-arte na XXX Bienal de Artes de São Paulo e os artistas responsáveis pelo estúdio que fora instalado dentro do prédio da Bienal abriram a grade de programação para artistas locais. Nós nunca havíamos enxergado nossa querida Pipa Musical como rádio-arte. Apresentamos a rádio para o pessoal da Mobile Radio que trouxe toda a proposta, equipamentos e conceito para a Bienal e eles nos deram um horário na grade. Tivemos sorte de ter um horário nobre na programação e mantivemos o espírito democrático da Pipa trazendo mais convidados para fazer nossos programas. Foi uma transformação imensa na nossa produção. Uma mistura de artistas produzindo sons – e até espetáculos visuais – dentro do estúdio aconteceu ali e encantou Sarah Washington e Knut Aufermann, os mentores da Mobile Radio.

A partir daí a Pipa ficou diferente. Colocamos mais ruídos na nossa programação. O costumeiro humor da rádio se juntava a sintetizadores e distorções microfonadas. O responsável pela engenharia de som da bienal, Leandro Nerefuh, se juntava a nós constantemente nas aventuras musicais.

Em 2016 tivemos a chance de levar a Pipa para fora do Brasil. Fomos convidados pelo pessoal da Mobile Radio, que estava junto à Radio Corax, organizando o festival Radio Revolten. O combinado seria ir eu (XTO), Rogerio Krepski e Leandro Nerefuh fazer uma performance radiofônica ao vivo no palco montado em Halle – Alemanha.

A performance apresentada na Alemanha foi pautada pela falta: nosso querido Leandro Nerefuh não pôde se juntar a nós na viagem para a Halle por ter sido acometido por dengue! Um acontecimento bem tropical que nos fez ficar desfalcados e tivemos que pensar em que fazer com essas novas informações… Nossa apresentação foi um tipo de missa com a intenção de enviar boas vibrações para nosso amigo doente. Contou com mini workshop de imitação de mosquito macho para livrar os alemães dos mosquitos da dengue. Contou com mini curso de produção de barulhos de elefante macho – para também livrar a cidade do perigo das elefantas. Teve rádio-bênção de copo de água. Teve presença de Astartoph, que fora invocado no palco. Foi, enfim, muito variado.

Após 2016 a produção da Pipa foi bem restringida. A situação político-econômica do país estava complicada e tivemos que focar nossas energias em trabalhos menos artísticos que nos permitiriam sobreviver. Agora em 2018, com o lançamento do livro sobre o festival Radio Revolten, animamos a Pipa novamente e pretendemos voltar a gravar nossas graças.